As consequências do incêndio que na noite de sábado matou pelo menos oito pessoas na associação recreativa de Vila Nova da Rainha, Tondela, dominam, na manhã de domingo, as conversas de várias pessoas concentradas no local.
Junto ao edifício de dois andares – cujo andar superior, onde terá começado o incêndio, está totalmente calcinado – concentram-se várias pessoas, a maioria habitantes da povoação, na qual se incluem algumas que se encontravam nas instalações aquando do sinistro que, para além das vítimas mortais, provocou várias dezenas de feridos, entre graves e ligeiros.
Eduardo Antunes pertence à direção da associação recreativa e, na noite de sábado, quando ali decorria um torneio de cartas, estava de serviço ao bar, no piso térreo, no momento em que foi alertado por gritos de uma mulher a pedir às pessoas que fugissem, face ao incêndio.
“Eu não me apercebi do incêndio, uma rapariga começou a gritar ‘fujam, fujam’ e eu saí por aquela porta de lá”, disse o morador à Lusa, apontando para um dos topos do prédio, oposto à porta onde acabaram por se concentrar a maioria das vítimas, que tentavam sair.
Quando Eduardo Antunes chegou à rua, “já havia labaredas a sair ali pela janela [do primeiro andar] e tentou, com outras pessoas, abrir a porta, que “abria para dentro”.
“Mas não havia hipótese, porque as pessoas estavam caídas da parte de dentro. Nós fazíamos força para dentro e as portas não abriam”, explicou,
De acordo com o morador, “estava mesmo muita gente” no edifício aquando do incêndio, já que ali decorria um torneio de cartas “que tem muito impacto aqui na nossa aldeia, participam pessoas de várias freguesias, até dizem que é um dos torneios mais bem organizados do distrito de Viseu”, alegou.
Eduardo Antunes frisou ainda que quatro mortos são de Vila Nova da Rainha – três homens e uma mulher, o mais novo com 56 anos e os restantes na casa dos 60 anos – e os restantes quatro de fora da povoação que fica localizada num vale, no sul do concelho de Tondela e que sofreu com os incêndios de 15 de outubro, cujos prejuízos ainda permanecem visíveis nos quintais e terrenos em redor.
“Isto foi tragédia em cima de tragédia, foi tudo seguido. Não há explicação, parasse que estamos a caminhar para o fim do mundo”, ilustrou.
Outro morador, que não quis ser identificado, recordou os momentos seguintes à deflagração das chamas, afirmando que as vítimas “precipitaram-se escadas abaixo” em direção à saída e várias acabaram por cair.
“Puxámos alguns que estavam por cima, por baixo não conseguimos puxar ninguém”, lamentou.
Já Júlio Dias disse que o edifício possuía duas salamandras, uma no rés-do-chão e outra no andar superior, e que um “excesso de temperatura” nesta última “que inflamou o teto” terá estado na origem das chamas.
No edifício, que fica numa rua da povoação entre dois largos, são visíveis vidros partidos e o interior calcinado no piso superior, onde subsistem vários troféus enegrecidos colocados junto a duas janelas.
No local, na noite de sábado, estiveram pelo menos 173 operacionais, apoiados por 67 veículos e dois meios aéreos (um helicóptero do Instituto Nacional de Emergência Médica e outro da Força Aérea) que transportaram os feridos para os hospitais.
Entretanto, a GNR vedou hoje de manhã a rua junto ao edifício, na qual a movimentação de pessoas tem vindo a aumentar, com um crescente número de populares e autoridades, nomeadamente elementos da Polícia Judiciária.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, anunciou que se vai deslocar ao local ao final da manhã de hoje. O ministro da Administração Interna também deverá deslocar-se a Tondela.