A referência de Marcelo Rebelo de Sousa à necessidade de uma “reparação às ex-Colónias” foi, sem sombra de qualquer dúvida, despropositada no tempo em que surge, no evento e local em que é produzida, perante as personalidades presentes. Daí o incómodo gerado e o imediato protagonismo jornalístico e de todos os meios de comunicação social, muito em particular daqueles que sempre têm em mira ou sempre estão prontos para cavalgar qualquer assunto que o Presidente da República aborde, quantas vezes esquecendo os excessos de protagonismo negativo em que incorrem, pois não é apenas de Marcelo Rebelo de Sousa que falam, mas também, indissociavelmente, do Presidente da República Portuguesa.
É evidente, e assim é a minha convicta opinião, que não se pode perseguir a história do passado, porque no presente será sempre vista com feitos gloriosos e actos criminosos, com actos de bravura e processos de cobardia. De uns, nos devemos orgulhar. De outros, devemos ter vergonha e pelos nossos antepassados pedir desculpa. Mas não podemos nunca ser juízes do passado nem assumir culpas retrospectivas. É assim a “História dos Povos”!…
Dentro deste âmbito, compreendo que Portugal fomente programas de cooperação e desenvolvimento com as ex-Colónias, que defenda a sua língua comum e que participe, sem preconceitos e em pé de igualdade, no seu desenvolvimento cultural e social (parcerias no campo da educação, saúde, economia, etc., etc.), e penso que nesse âmbito se tenha já feito muita coisa. Sobre tudo o resto, lamento não perceber o que o Senhor Presidente da República pretende dizer com a expressão “reparação histórica às antigas Colónias”.
Exposto este ponto de vista, e apoiando até a doutrina que o autor expõe num artigo de opinião publicado neste “Jornal As Beiras”, distancio-me da forma como ele o fez (como, aliás, também de alguns comentários por outros proferidos em diversos programas na TV, na rádio ou em jornais), em que se esquece que Marcelo Rebelo de Sousa é o Presidente da República, isto é, a “primeira figura” de Portugal. É sagrado o “direito de opinião”, mas discordo em absoluto que para expressar o seu pensamento, por mais crítico que ele seja, se tenha de apelidar de “destrambelhado” a figura que nos representa a todos. Cavalgamos assim, com atitudes e momentos exageradamente inflamados que não ajudam a assumir com serenidade a responsabilidade que todos, políticos e não políticos, devem conservar, a onda de instabilidade que neste momento o País vive.
E, nestes dias em que o País está suspenso da discussão parlamentar do “Programa de Governo” deste “novo Governo”, os órgãos da comunicação social pouco informam, pouco discutem perante a população portuguesa, qual vai ser e quais as dificuldades em implementar um tal Programa!…
O direito de opinião e o direito à informação são realidades que começaram há já cinquenta anos, mas a Democracia ainda tem muito caminho para cavalgar.
A propósito, uma deputada do partido Iniciativa Liberal, Patrícia Gilvaz, terá sido insultada e intimidada no desfile do “25 de Abril” na Avenida da Liberdade!… Parece que ainda há quem não queira que o “25 de Abril” seja de todos!…