Opinião: Lidar com a incerteza

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Celebrado desde 1886, o 1.º de maio representa um marco importante na história dos direitos dos trabalhadores, tendo começado por ser uma luta por um ambiente de trabalho mais seguro e com menos riscos.
O tempo de lutar, por exemplo, por jornadas de trabalho mais curtas (de oito horas), está já muito longe na história e, na verdade, as condições de trabalho evoluíram muito significativamente ao longo destes anos, em especial nos países industrializados, marcadas por diversos períodos que impuseram mudanças significativas, económicas, tecnológicas, sociais ou políticas. Das guerras às revoluções tecnológicas, da globalização às alterações climáticas, são muitos os desafios que conduzem forçosamente a um impacto elevado nas condições de trabalho, as quais se transformaram de forma complexa. A maior parte dos trabalhadores desfruta hoje de condições totalmente distintas das do final do séc. XIX. Porém, os desafios continuam a surgir e exigem adaptações contínuas.
Estes desafios são, na verdade fruto dos riscos de cada época. A imprevisibilidade e o clima de incerteza que se vive nas organizações no dia-a-dia é elevado e não se pode dizer que tenha vindo a reduzir. As organizações são colocadas perante reptos que implicam uma gestão constante dos riscos. O contexto altera-se de forma muito volátil e a incerteza, em muitas áreas, é constante, forçando as organizações a reavaliar estratégias constantemente, o que implica implementar formas de mitigação de riscos que possam impactar em termos operacionais, financeiros ou estratégicos.
Num relatório recente da ControlToRisk (https://controltorisk.pt/relatorio-do-risco-em-portugal-para-2024/) sobre os principais riscos em Portugal para 2024, um dos aspetos que me ressalta à vista é a posição que a inovação e a digitalização podem representar para as organizações em termos de risco. Esta surge logo a seguir aos riscos da procura (por quebra do consumo), financeiros (políticas monetárias), geopolíticos e macroeconómicos, cibersegurança, sustentabilidade e energia. O risco da inovação e da digitalização, com a introdução de tecnologias mais disruptivas, continua assim a ganhar atenção. Não só de forma isolada, mas muitas vezes, combinando com outros riscos. Se, por exemplo, os requisitos ambientais na Europa são bastante mais apertados para as empresas do que noutros continentes, associar esse fator a uma crescente introdução de tecnologia e automação nos processos pode facilmente conduzir à deslocalização para outras geografias de empresas e trabalhadores, nomeadamente de setores tradicionais.
É nesta adaptação à dupla transição (verde e digital) que assentam muitos riscos atuais para as organizações, incluindo as exigências apertadas de práticas de sustentabilidade (ambiental/social) que possam colocar em causa questões operacionais das organizações. Na vertente da digitalização, estamos a assistir a uma entrada forte de ferramentas de Inteligência Artificial nos negócios, que continuará a ser um desafio para diversas profissões.
Como conseguir este equilíbrio, com a vida pessoal e com os direitos dos trabalhadores, continuará a ser seguramente um desafio. Tal como o foi no início, neste dia, em 1886.

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